
O termo “culinária afetiva” vem sendo usado cada vez mais na atualidade, principalmente por chefs de cozinha ou cozinheiros que trabalham com o aspecto cultural da comida. Entretanto, ainda há muitas dúvidas e confusões sobre seu significado e objetivos. Afinal, o que é a tal da cozinha afetiva? Para que ela serve e qual a sua importância? Comida é afeto? A seguir exploramos um pouco do recorte brasileiro no uso desse termo e comentamos que comida e memória tem muito em comum!
O que tem nesse post:
O que é comida afetiva?
Comida afetiva é aquela que traz algum valor sentimental, isto é, que nos faz sentir nostalgia. É a comida que nos faz lembrar de alguém querido(a), da nossa infância, de um momento especial ou de algo marcante na nossa vida.
Exemplos de comida afetiva
Alguns exemplos comuns de comida afetiva que trazem boas lembranças são:
- Arroz-doce
- Bolinho de chuva
- Sequilho
- Pamonha
- Pão de Queijo
- Café
- Mingau
- Macarrão
- Lasanha
- Bolo de Fubá
- Algodão Doce
- Feijoada
- Baião de dois
De fato, a lista não para por aí e o que é comida afetiva para você pode ser algo totalmente diferente para outras pessoas. Afinal, uma característica desse tipo de alimento é que comida e memória estão juntas e, por isso, muitas vezes é algo bastante pessoal.

Qual a diferença entre cozinha afetiva e comida afetiva?
Ambos termos vem do inglês “Comfort Food” e significam o mesmo. Isto é, tanto cozinha afetiva como comida afetiva servem para descrever o apelo emocional ligado à comida.
Explicando a Culinária Afetiva
Há um tempo, era tendência vermos por aí muitos espaços e restaurantes que se auto denominavam “gourmet”. Estes estabelecimentos tinham aspecto rebuscado em sua decoração e cardápios, com cozinhas que trabalhavam com ingredientes de difícil acesso. Na maioria das vezes inspirados nas tendências modernas europeias, esse modelo foi denominado como “alta gastronomia”.
Esse tipo de culinária obteve muito sucesso no Brasil, principalmente entre a classe burguesa (também chamada “elite brasileira” ou “classe dominante”). Afinal, essa era a classe que tinha acesso a estes restaurantes por diversos motivos como, por exemplo, herança colonial e acesso a informação.
Outro fator desse sucesso no país, é que fomos ensinados a acreditar que o que vem de fora tem mais valor do que o que vem da nossa própria terra, e isso pode ser resumido pelo fato do Brasil ser esse grande exportador, não somente de matéria-prima, como também de talentos gastronômicos.
Ou seja, pessoas que vão para o estrangeiro estudar e buscar atuação profissional em grandes restaurantes com a crença de que “o que é bom está lá fora”. Então, o ciclo é buscar o conhecimento técnico da alta gastronomia, para depois retornar ao país e aplicar seus conhecimentos adquiridos no Brasil, seja em grandes restaurantes de culinária internacional, seja em restaurantes autorais. Porém, como sabemos, os modismos e tendências são cíclicos, e na gastronomia isso não é diferente.

As tendências são cíclicas e com a gastronomia não é diferente
Pois, bem! Chegou uma hora que a tendência do gourmet e do restaurante chique com cara de Europa, dos ingredientes exportados, ficou cansada. Era preciso mudar. Nós presenciamos, então, uma onda de grandes chefs de cozinha brasileiros que começaram a olhar para dentro de si e a querer colocar para fora quem realmente eram, quais eram as suas raízes e o que nossa terra tem de valoroso – que não é pouco! Já que nossas riquezas gastronômicas, e culturais, são enormes.
Uma vez que começamos a ver uma resposta desses chefs ao “gourmet” a partir do uso de ingredientes da nossa terra e de técnicas tradicionais da culinária brasileira, começamos a ver grandes restaurantes servirem feijoada e baião de dois como prato principal. Da mesma forma, vimos coxinhas e pão de queijo serem servidas como entradas e cocada ou brigadeiro para sobremesa. Vimos então a nossa cozinha valorizada, não apenas na mesa de nossas matriarcas, como também exposta nas ‘vitrines’ internacionais que são os restaurantes autorais de grandes cozinheiros.
O que isso tem a ver com a culinária afetiva? Bem… tudo!
Como o próprio nome diz, a culinária afetiva é aquela que traz consigo afeto, que tem uma carga emocional, que transporta a história e os sentimentos de quem a faz, que acolhe a quem alimenta. É a comida da mãe, da avó, a comida feita às várias mãos, que emociona, que lembra sua casa ou sua infância. É a culinária que você sente falta quando mora longe de quem ama.
Por isso, ao unir esse movimento de olhar para dentro com a definição de comida afetiva o gourmet não só deixou de ser moda, como a cozinha afetiva do Brasil passou a ser amada por todos.
A comida afetiva do Brasil
No caso do Brasil, a cozinha afetiva está intimamente ligada com o uso dos produtos da nossa terra e com as técnicas dos nossos povos originários (indígenas). Além disso, se misturam às técnicas e produtos trazidos pelos povos colonizadores, migrantes e imigrantes, com técnicas dos povos originários. Nossa culinária é tão complexa quanto a nossa história e tão criativa quanto o povo brasileiro precisa ser perante os desafios que enfrentou sempre.

A comida afetiva está ganhando o coração de todos
Muitos têm a definição da riqueza brasileira como uma riqueza estritamente material à qual apenas a classe burguesa tem acesso, mas não é exatamente assim. A maior riqueza do Brasil é a sua cultura – o complexo conjunto de conhecimentos que adquirimos e carregamos ao caminhar por essa terra. Cada receita da cozinha afetiva traz consigo um pedaço da nossa cultura e da nossa identidade, que no final das contas é a herança que temos para deixar neste mundo.
Nosso legado e nossa história relacionado com a comida afetiva…
Com a expressão da nossa cozinha brasileira por grandes chefs de cozinha, o movimento da valorização do que nossa terra dá, do preparo do seu próprio alimento, do resgate de receitas e técnicas familiares, nós não só estamos exportando apenas nossa matéria-prima e nossos talentos, mas também exportamos a nossa cultura. E cada dia mais tomamos consciência do nosso valor e do nosso poder de transformação interna.
Sabe aquela receita que a sua mãe faz, que ela aprendeu com a sua avó, ensinada pela sua bisavó? Ou aquela receita que seus tios sempre fazem juntos quando se reúnem? Pergunte como faz, demonstre interesse. Aprenda a culinária afetiva, faça para quem você ama, assim como ela foi feita para ti por quem te amou.
Por isso, não deixe essas receitas morrerem. Dessa forma nós estamos contando às gerações futuras não apenas a nossa história individual, mas também a história do Brasil. Acredito que a culinária afetiva seja um instrumento chave na produção cultural brasileira e catalisador de grandes transformações dos seres enquanto indivíduos e enquanto sociedade.
Comida é afeto, não acredita?
Sim, comida vai muito além de um simples alimento. Trata-se de história e cultura e um exemplo disso é a comida baiana com seus mais de 20 pratos incríveis como o vatapá, acarajé e tapioca. Aliás, é possível aprender muito com comida. Aliás, você já se perguntou qual é a melhor comida do mundo? Claro, como comida e cultura estão sempre juntas, isso pode variar muito!
Perguntas Frequentes
Qual a origem do termo comfort food (comida afetiva)?
O termo comfort food foi visto pela primeira vez em 1966, quando o Palm Beach Post (um jornal americano) o usou em uma história. No entanto, segundo pesquisa da JSTOR, foi Lizza Minnelli que usou o termo como entendemos hoje.
Qual foi o primeiro alimento considerado comida afetiva?
Segundo o texto de Palm Beach Post, os alimentos foram a sopa de frange e o ovo pochê. Lizza mencionou o hambúrguer.
Uau😱😱impressionada com esse talento para escrita gastronômica 😍adorei a matéria, parabéns pela pesquisa,cozinhar com amor e por amor😍
Obrigado Rose! Fique sempre por aqui , que vem mais! Beijos!
Obrigada pelo comentário! Eu aprendi com a melhor de todas 💖
Ah Bia que delícia que foi ler isso e nos aproximar ainda mais de você e em consequência gerar esse afeto todo, ansioso por mais textos ❤️
Obrigado pelo seu comentário, João, um abração pra você! Fica sempre por aqui.
Que bom que gostou, amor! 😍
Me emocionei Bia parabéns, bem explicado ,cozinhar com amor 😍
Obrigada pelo comentário, tia! Você é parte disso tudo. Um beijo!
Hmmmmm que saudade de comidinha brasileira! <3 Deu até um quentinho no coração!
Que bom ouvir isso, Vit!! Obrigada pelo comentário!
No papel de marido e degustador constante das obras culinárias da autora, posso garantir que o dom dela não é apenas o da palavra – a culinária corre forte na veia dessa mulher maravilhosa. Parabéns pela nova empreitada nesse mundo dos blogs, e que venham mais inúmeros textos, e inúmeros quitutes também! ❤❤❤
Je t’aime, ma cherie! 😘
Obrigada pelo apoio, meu amor. ❤️
Até eu que não gosto de cozinhar, fiquei com vontade de fazer uma comidinha com esse texto! Obrigada por nos inspirar, Bianca!
A Bianca arrasa e vai arrasar mais ainda!
Que delícia ler seu comentário, Mayara! Um beijão!!
Que delícia de texto…senti saudades da comida da D.Chica…minha mãezinha…tive o privilégio de aprender muito com ela…parabéns minha linda…saudades de vcs…bjos
A Bianca arrasa, estamos com saudades dela aqui!
Amei o tema. Não conhecia esse termo. Mas percebi que eu procuro praticar a cozinha afetiva com minhas filhas. Momentos e sabores que elas guardam na memória.
A cozinha afetiva é cada vez mais o futuro da gastronomia. Até porque mesmo os restaurantes de comida gourmet e respectivos chefs trazem as suas memórias, o seu legado para os pratos que criam. Nossa, como tenho saudades da sopa da avó.
Que texto top. Me identifico muito com o conteúdo do seu texto sobre cozinha afetiva. Tenho tantas memórias da comida da minha infância no sertão da Bahia, que fico feliz quando tenho a oportunidade de voltar a comer. Que bom que hoje já existe essa preocupação em valorizar essas memórias.
como sempre o roberto dando show nas materias, excelente artigo!